Não siga roteiros




A 7 dias atrás acordei com peso nos olhos que não era sono, não era irritação e nem conjuntivite. Era um presságio.
Levantei e como de costume estudei, tomei café, escovei os dentes, ouvi uma musica e tomei banho. Fui trabalhar no mesmo horário, peguei o ônibus com o mesmo motorista e com as mesmas pessoas. Segui minha rotina fielmente como quem segue um roteiro simples e sem punch lines. 

Um dia normal que em 2 meses se misturaria na minha memória com outros dias normais e logo após cairia em esquecimento. Mas eu ainda me sentia cansado e com aquele peso nos olhos que eu não sabia o real motivo.

Cheguei em casa nesse dia e vi alguns videos da semi-final da Copa Sulamericana. Fui dormir.

Acordei com a noticia de que o avião do finalista da Copa havia caído e não soube como digerir aquilo, eu senti como se o peso da tragédia estivesse sobre meus ombros, ou melhor, me senti como Atlas com o peso do mundo nos ombros. Não só pelo fato de inúmeros jovens terem perdido a vida, mas também por perceber nessa enorme fatalidade como a ela é frágil. Você esta bem, voando alto em sua carreira, vida emocional e até mesmo espiritual quando de repente CABOOM tudo desmorona.

Falando em carreira essa semana minha caixa de entrada foi invadida por e-mails  de desligues e demissões e o tal "peso nos olhos" que eu senti na segunda de manhã começou a ficar mais forte.

Em menos de 3 dias houve dois grandes CABOOMS bem pertinho de mim e assumo que não foi fácil assimilar tudo aquilo, me vi na pele dos familiares dos mortos e até entre eles. Me vi tendo à carreira interrompida de repente por uma fatalidade cotidiana seja ela do mercado ou da vida em si.

Quantas vezes vocês já parou para pensar nisso? 

Passamos tempo demais seguindo fielmente o roteiro das nossas semanas e deixamos os dias cairem no esquecimento, deixamos de viver plenamente aquilo que temos e de ser feliz com o pouco que a vida nos oferece. Eu gostaria de fazer duas perguntas para você nesse momento...

A primeira: Se você morresse hoje, ou fosse desligado da sua empresa, ou fosse obrigado a se mudar de estado por um motivo qualquer deixando seus amigos e sua escola. O que você deixaria para trás para ser lembrado?

A segunda: Sabe quantas pessoas gostariam de estar no seu lugar hoje? Não de mudança, mas vivendo aquilo que você vive hoje. 

Eu respondi essas perguntas para mim essa semana e cheguei a conclusão de que preciso parar de seguir os roteiros que meu subconsciente manda e fazer coisas diferentes. Pegar meu ônibus mais cedo, desejar bom dia a o máximo de pessoas que eu conseguir, reinventar a forma como eu faço meu trabalho, reinventar a forma como eu vivo minha vida. Porque se uma tragédia cotidiana qualquer me roubar tudo o que eu tenho hoje eu gostaria de ser lembrando como alguém que deixou ótimas lembranças para trás.

O engraçado é que no dia em que eu reinventei a forma de encarar alguma tarefa o peso nos meus olhos desapareceu. Acho que meu corpo estava só tentando avisar que eu não estava ligado e sim em stund by e quando resolvi colocar minha vida para funcionar o sinal de alerta foi embora.

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